sábado, 19 de maio de 2012

O Manifesto por uma Esquerda Livre e o Bloco


Sumário: Um conjunto de personalidades apresentaram, esta semana, o Manifesto por uma Esquerda Livre. Trata-se de um documento sem novidades, mas que gerou um conjunto de reacções que não poderiam ficar em claro. O momento não é de sectarismos, mas sim de construção de uma Esquerda popular, plural combativa e influente!


O Manifesto por uma Esquerda Livre é um documento de uma indigência política tal, que nem mereceria qualquer comentário. Na verdade, não se vislumbra uma ideia nova em tal documento. Nada acrescentou, quando podia ter contribuído para um verdadeiro debate sobre o futuro da Esquerda…

Este manifesto não é mais que o expressar de um "estado de alma" originado na orfandade política dos seus subscritores, seja por não encontrarem à esquerda um partido com que se identifiquem, seja, quanto aos militantes do PS que o subescrevem, para expiar a deriva de direita do PS, e por essa via a sua inércia e conformismo ao continuarem a militar e aceitar a via desse PS.

O mais certo é que este manifesto seja mais um nado morto na vida política nacional, que sirva apenas para reconfortar alguns egos e algumas consciências.

Merecedoras de comentário, isso sim, são as reacções que se verificaram em relação ao Manifesto. Vi, com muita preocupação, manifestações que, roçando a intolerância ideológica, e ajustes de contas pessoais, denunciam uma estratégia de radicalização e que inviabiliza a construção de uma Grande Esquerda.

Todos sabemos que o PS, tal como ele é, não constitui uma alternativa de Esquerda. E todos sabemos que a Esquerda vai para além do Marxismo.

O Marxismo teve e tem um papel fundamental na construção da Esquerda, enquanto instrumento de análise. Já enquanto solução deixou, e muito, a desejar…

Admito que, designando-se o Marxismo como “Socialismo Científico”, e oferecendo o mesmo uma resposta absoluta à sociedade, seja tentador enquanto ideologia (apesar de alguns erros quanto às suas previsões), mas não podemos deixar de o integrar na sua época, e de ter em conta a sua aplicação.
Em minha opinião, o Marxismo falhou quanto à resposta ao natural individualismo de cada um de nós. E o capitalismo soube responder-lhe de forma fatal, com a sociedade de consumo, enquanto elemento de alienação, mas também como elemento individualizador…

Até hoje ninguém construiu uma doutrina tão impressionante como Marx. E da sua aplicação deveríamos ter percebido, com clareza, a sua inviabilidade enquanto modelo. Apesar disso subsistem exegetas do marxismo tão zelosos como alguns exegetas bíblicos ou corânicos, acompanhados do inevitável sectarismo…

Insistir de forma intransigente nesta atitude será, fazer como o escuteiro, que querendo praticar uma boa acção insiste em ajudar a velhinha a atravessar a estrada, não compreendendo que ela quer ficar do mesmo lado do passeio.

Há Esquerda para além do Marxismo. E o Bloco de Esquerda compreendeu-o ab initio: veja-se a notável e ainda muito actual declaração “COMEÇAR DE NOVO”. Aí se definiu o Bloco como um espaço de liberdade, como um espaço plural, como um espaço alternativo a este capitalismo!

Talvez valha a pena voltar a ler esse documento, e perceber a necessidade de uma Esquerda plural. Citarei apenas estas duas frases:

O Bloco assume as grandes tradições da luta popular no país e aprende com outras experiências e desafios; renova a herança do socialismo e inclui as contribuições convergentes de diversos cidadãos, forças e movimentos que ao longo dos anos se comprometeram com a busca de alternativas ao capitalismo.
É daqui que queremos partir para a construção de uma esquerda popular, plural, combativa e influente, que seja capaz de reconstruir a esperança.”

Está a concretização deste objectivo nas mãos de cada um de nós. E eu, que sou de Esquerda, que não sou Marxista, e que sou militante do Bloco de Esquerda continuarei de forma intransigente a defender sem reservas esta feliz posição. Porque o Bloco se constrói somando, e não subtraindo…

Ventosa, 19 de Maio de 2012

Rui Costa

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