Sumário: Um conjunto de personalidades apresentaram, esta semana, o Manifesto por uma Esquerda Livre. Trata-se de um documento sem novidades, mas que gerou um conjunto de reacções que não poderiam ficar em claro. O momento não é de sectarismos, mas sim de construção de uma Esquerda popular, plural combativa e influente!
O Manifesto por uma Esquerda Livre é
um documento de uma indigência política tal, que nem mereceria qualquer
comentário. Na verdade, não se vislumbra uma ideia nova em tal documento. Nada acrescentou,
quando podia ter contribuído para um verdadeiro debate sobre o futuro da
Esquerda…
Este manifesto não é mais que o
expressar de um "estado de alma" originado na orfandade política dos
seus subscritores, seja por não encontrarem à esquerda um partido com que se
identifiquem, seja, quanto aos militantes do PS que o subescrevem, para expiar
a deriva de direita do PS, e por essa via a sua inércia e conformismo ao
continuarem a militar e aceitar a via desse PS.
O mais certo é que este manifesto seja mais um nado morto na vida
política nacional, que sirva apenas para reconfortar alguns egos e algumas
consciências.
Merecedoras de comentário, isso sim,
são as reacções que se verificaram em relação ao Manifesto. Vi, com muita
preocupação, manifestações que, roçando a intolerância ideológica, e ajustes
de contas pessoais, denunciam uma estratégia de radicalização e que inviabiliza a
construção de uma Grande Esquerda.
Todos sabemos que o PS, tal como ele
é, não constitui uma alternativa de Esquerda. E todos sabemos que a Esquerda
vai para além do Marxismo.
O Marxismo teve e tem um papel
fundamental na construção da Esquerda, enquanto instrumento de análise. Já
enquanto solução deixou, e muito, a desejar…
Admito que, designando-se o Marxismo como
“Socialismo Científico”, e oferecendo o mesmo uma resposta absoluta à
sociedade, seja tentador enquanto ideologia (apesar de alguns erros quanto às
suas previsões), mas não podemos deixar de o integrar na sua época, e de ter em
conta a sua aplicação.
Em minha opinião, o Marxismo falhou
quanto à resposta ao natural individualismo de cada um de nós. E o capitalismo
soube responder-lhe de forma fatal, com a sociedade de consumo, enquanto
elemento de alienação, mas também como elemento individualizador…
Até hoje ninguém construiu uma
doutrina tão impressionante como Marx. E da sua aplicação deveríamos ter
percebido, com clareza, a sua inviabilidade enquanto modelo. Apesar disso
subsistem exegetas do marxismo tão zelosos como alguns exegetas bíblicos ou
corânicos, acompanhados do inevitável sectarismo…
Insistir de forma intransigente nesta
atitude será, fazer como o escuteiro, que querendo praticar uma boa acção insiste
em ajudar a velhinha a atravessar a estrada, não compreendendo que ela quer
ficar do mesmo lado do passeio.
Há Esquerda para além do Marxismo. E o
Bloco de Esquerda compreendeu-o ab initio:
veja-se a notável e ainda muito actual declaração “COMEÇAR DE NOVO”. Aí se
definiu o Bloco como um espaço de liberdade, como um espaço plural, como um
espaço alternativo a este capitalismo!
Talvez valha a pena voltar a ler esse
documento, e perceber a necessidade de uma Esquerda plural. Citarei apenas estas duas frases:
“O
Bloco assume as grandes tradições da luta popular no país e aprende com outras experiências
e desafios; renova a herança do socialismo e inclui as contribuições
convergentes de diversos cidadãos, forças e movimentos que ao longo dos anos se
comprometeram com a busca de alternativas ao capitalismo.
É daqui
que queremos partir para a construção de uma esquerda popular, plural,
combativa e influente, que seja capaz de reconstruir a esperança.”
Está a concretização deste objectivo nas mãos
de cada um de nós. E eu, que sou de Esquerda, que não sou Marxista, e que sou
militante do Bloco de Esquerda continuarei de forma intransigente a defender
sem reservas esta feliz posição. Porque o Bloco se constrói somando, e não
subtraindo…
Ventosa, 19 de Maio de 2012
Rui Costa
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